Neurociência e sua relação no tratamento de transtornos mentais.
- Edla Santa Brígida
- 9 de nov. de 2024
- 3 min de leitura

A neurociência é o campo da ciência que estuda o sistema nervoso e os mecanismos cerebrais que determinam comportamentos, emoções e funções cognitivas. Nos últimos anos, essa área tem ganhado destaque no tratamento de transtornos mentais, com importantes descobertas sobre como a depressão, a ansiedade e outras condições impactam o cérebro. O trabalho de renomados pesquisadores, como Eric Kandel, vencedor do Prêmio Nobel por suas descobertas sobre a neuroplasticidade, reforça o impacto da neurociência na saúde mental. Kandel demonstrou que o cérebro tem uma notável capacidade de reorganizar suas conexões, um conceito que revolucionou as terapias modernas ao mostrar que é possível modificar padrões de pensamento e comportamento disfuncionais através de métodos específicos de intervenção.
A neuroplasticidade, essa capacidade do cérebro de formar e reformar conexões, tem sido aplicada em terapias como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que segundo Aaron Beck, um dos pioneiros da TCC, ajuda a reorganizar os pensamentos, favorecendo novos padrões mentais e emocionais. Beck demonstrou que a TCC pode promover mudanças nas estruturas neurais associadas a pensamentos negativos, atuando diretamente sobre áreas como o córtex pré-frontal e a amígdala.
A amígdala é uma pequena estrutura em formato de amêndoa localizada no sistema límbico, uma região do cérebro fundamental para o processamento das emoções e respostas emocionais. Apesar de seu nome lembrar as amígdalas da garganta, a amígdala cerebral é totalmente diferente e desempenha funções cruciais para o comportamento e a saúde mental. Está fortemente associada às respostas emocionais, especialmente ao medo e ao estresse. Em pessoas com transtornos de ansiedade, essa área se torna hiperativa, o que aciona reações de alerta constantes, mesmo diante de situações não ameaçadoras. Entender como a amígdala opera permite que terapeutas trabalhem para reequilibrar essa resposta.
Outro pesquisador influente é Antonio Damásio, que explora a relação entre emoções e saúde mental. Em sua obra, Damásio mostra como as emoções estão profundamente enraizadas em estruturas cerebrais, afetando diretamente a maneira como lidamos com o mundo ao nosso redor. A compreensão dessas dinâmicas leva à criação de tratamentos mais eficazes e específicos para cada transtorno. Damásio também destaca o papel do córtex pré-frontal no controle das emoções, região que se mostra menos ativa em casos de depressão profunda. Assim, terapias que estimulam essa área, como o mindfulness, ajudam a fortalecer o controle emocional e reduzir sintomas ansiosos e depressivos.
A hipnoterapia, outra prática que utiliza conhecimentos de neurociência, é especialmente útil para acessar memórias e emoções profundas. Segundo Milton Erickson, um dos pioneiros nessa técnica, a hipnose pode ajudar a transformar traumas e experiências negativas, já que atua na mente subconsciente e no processamento emocional. Essa abordagem permite que o paciente ressignifique situações passadas e obtenha melhorias significativas no bem-estar mental.
Além das abordagens mencionadas, o uso de técnicas de neuromodulação, como a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), tem se tornado uma alternativa relevante para pessoas que não respondem bem a tratamentos convencionais. Essa técnica aplica estímulos magnéticos a regiões cerebrais específicas, como o córtex pré-frontal, para aliviar sintomas de depressão e ansiedade. Estudos de Mark George mostram que a EMT pode ajudar na regulação do humor, agindo diretamente nos circuitos neurais relacionados aos transtornos mentais.
No contexto da terapia, o uso desses métodos fundamentados em neurociência é essencial para garantir resultados duradouros e promover uma verdadeira transformação no paciente. Através da aplicação prática de descobertas científicas, profissionais podem ajudar seus clientes a superar bloqueios emocionais e alcançar um equilíbrio mental mais saudável. Com a neurociência, a terapia avança para uma abordagem mais holística e eficaz, proporcionando alívio em questões de saúde mental de maneira mais consistente e personalizada.
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